Per chi volesse conoscere la storia di questa "famiglia"....
Espirito Santo: a historia de um imperio familiar
Nasceu no século XiX, cresceu durante o Estado Novo e resistiu a guerra, revoluções e nacionalizações. Sempre em família.
Os banqueiros mais influentes do mundo estão reunidos à mesa, à cabeceira têm Robert McNamara, presidente do Banco Mundial e promotor do jantar anual em que reunia a cúpula da finança internacional. Nesse encontro, em Setembro de 1978 em Washington, o lugar à direita do presidente estava reservado a um português, banqueiro sem banco, mas ainda assim um dos mais respeitados na sala. Do encontro, além do apoio moral da elite da banca, Manuel Ricardo ganhou uma linha de crédito aberta por David Rothschild, presidente do Chase Manhattan Bank. Meses depois, seria o Banco Mundial a fazer o mesmo para os investimentos do português no sector agrícola no Brasil (Agribhaia e Cobrape) e no Paraguai (Golondrina). Como garantia, Manuel Ricardo tinha o apelido: Espírito Santo . Um nome que, desde o início do século, pertencia à aristocracia da finança europeia, atravessara duas guerras mundiais e uma colonial, uma revolução e nacionalizações, sempre nas mãos de herdeiros de José Maria do Espírito Santo Silva, nascido a 13 de Maio de 1859, filho de pai incógnito.
Há quem garanta que era filho bastardo de Simão da Silva Ferraz da Lima Castro, o primeiro conde de Redufe, intendente-geral da polícia e figura da aristocracia da segunda metade do século XIX. Representante da coroa na Alemanha e em Paris, comendador e homenageado com a Grã-Cruz da Ordem Militar de Cristo, Lima Castro terá sido o homem por trás da educação de José Maria, assim como do empréstimo que lhe permitiu lançar-se no mundo. Para os livros, ficou a história do bebé abandonado na Travessa dos Fiéis de Deus que começou a negociar cautelas e bilhetes de lotaria no número 91 da Calçada dos Paulistas, hoje conhecida como a Calçada do Combro, em Lisboa. E o negócio, do jovem que aos 19 anos já era dono de uma casa de câmbio, cresceu fora de portas. No topo dos negócios mais rentáveis, foi a lotaria espanhola, com prémios bem maiores que a congénere portuguesa, que lhe abriu as portas do mercadoq. Com o passar dos anos, tornou-se visita regular da bolsa de Madrid, de Paris - onde assistiu à Exposição Mundial de 1878 - e trocou as cautelas pelo imobiliário e pela gestão de fundos e créditos. Duas facetas que até hoje acompanham o Grupo Espírito Santo , os contactos internacionais e os investimentos de retorno garantido.
A José Maria não faltava nada. A prová-lo, as zonas em que centrou os seus investimentos imobiliários - primeiro na rua do Sol ao Rato, depois em Campo de Ourique e na Avenida da Liberdade - e a capacidade de se antecipar aos mercados. Antes da crise de 1890, vendeu todos os créditos que detinha da dívida espanhola que se desvalorizavam rapidamente, em 1906 fundou uma empresa de exploração de açúcar em Moçambique, sete anos depois chegava a Angola e ao sector do algodão e em 1911 oficializava aquela que seria a verdadeira vocação da família - com 61 contos, comprou a Casa Bancária que não tardou a transformar em J.M. Espírito Santo Silva e cujo capital social fez disparar até aos 400 contos antes da sua morte em 1915. Do primeiro casamento, com Maria Conceição, que morreria aos 40 anos, ficava Maria Justina, enquanto do segundo, com Rita de Jesus Ribeiro, deixava quatro herdeiros: Maria, Ricardo, Manuel e José Ribeiro, o filho varão e o primeiro a assumir o controlo dos negócios da família (ver infografia). Património também já não faltava: 650 contos investidos em capitais de diferentes sociedades, 374 em papéis de crédito e uma carteira de imóveis avaliada em 140 contos.
Os primeiros dias da banca
Os tempos não eram os mais tranquilos. Com a Europa envolta na I Grande Guerra e a inflação totalmente descontrolada - entre 1919 e 1924, o escudo desvalorizou 20 vezes -, em Portugal a luta era para estabilizar com uma das repúblicas mais novas da Europa. Falharam. Segundo o livro "Fortunas & Negócios", de Filipe Fernandes, dos 44 bancos registados em Portugal em 1892, em 1919 apenas 27 sobreviviam e 81% dos depósitos estavam concentrados nos cinco maiores. O Banco Espírito Santo (BES) nasce a 9 de Abril de 1920, no meio da agitação com um capital social de 3.600 contos e 40 mil acções, 39.500 das quais na posse da família , com um preço unitário de 90 escudos. Com o novo nome, chegou também o Presidente do Conselho de Administração, Ricardo Ribeiro Espírito Santo , e o primeiro secretário-geral, Manuel Ribeiro, o mais novo dos filhos do fundador, com apenas 26 anos.
Se António Oliveira Salazar, que chegaria ao poder a 28 de Maio de 1926, ganha fama de 'mago das finanças', Ricardo Espírito Santo rapidamente se torna no seu principal conselheiro económico. Aos domingos, reuniam em casa do Presidente do Conselho, a troca de correspondência era constante e as ligações da família às altas esferas do Estado Novo aprofundavam-se ao mesmo tempo que a dimensão do grupo crescia. Logo em 1934, uma tentativa falhada de fusão com a proposta de compra do Banco Nacional Ultramarino e em 1937 a compra do Banco Comercial de Lisboa, até então controlado pela família Queiroz Pereira, mas onde um Espírito Santo , Fernando Moniz Galvão, já ocupava um cargo de destaque há três anos. Nessa altura, em Outubro de 1937, nascia o BESCL com 14.400 contos divididos em 160 mil acções de 90 escudos cada. Aproximava-se a era dourada.
A Norte, a Alemanha nazi ganhava balanço para a II Grande Guerra e em Portugal o estatuto de 'zona neutra' começava a revelar-se lucrativo. Ao BESCL não faltava a proximidade à aristocracia europeia ou ao decisor nacional, na árvore genealógica também não faltavam os pergaminhos judaicos - Ricardo tinha casado com Mary Cohen, filha de um conhecido judeu com actividades financeiras sediadas em Gibraltar - para que se tornasse num dos bancos preferidos para proteger e transferir as maiores fortunas europeias. Durante os anos da guerra, o BESCL quadruplica o valor das acções, duplicam as participações do grupo em outras sociedades e os depósitos que lhe são confiados disparam 600%. Mas se Salazar conseguiu preservar a neutralidade do país, os Espírito Santo não tiveram a mesma sorte. Em casa de Ricardo esteve albergado o Duque de Windsor, visto em Inglaterra como o preferido dos alemães para ocupar o trono em caso de conquista, e as repreensões não tardaram. Em Maio de 1943, o ministro britânico para os assuntos económicos fez chegar o primeiro aviso - o BES tinha sido incluído na lista negra das entidades financeiras que negociavam com alemães e, consequentemente, embargadas pelos aliados. Três meses depois, seria retirado da lista, mas no ano seguinte chegaria nova repreensão - o banco acabou por assinar, a 15 de Agosto de 1944 e depois de consultado Salazar, um acordo prometendo cessar as negociações com a Alemanha. Uma notícia que mereceria transmissão na BBC.
Ricardo Espírito Santo era o protótipo do banqueiro moderno. Homem de interesses variados, das artes ao desporto. Em miúdo escreveu fados, em adolescente praticou boxe, esgrima e vela, em adulto tornou-se num feroz jogador de bridge e nunca descurou a sua actividade social. Cresceu ciente da importância de manter uma forte rede de contactos e em casa, próxima da Boca do Inferno em Cascais, tanto recebia membros da nobreza francesa, da realeza espanhola como representantes da mais alta finança europeia. Se foi sob a sua alçada que o BESCL se expandiu, também foi com ele no comando que a família ganhou definitivamente um lugar na aristocracia europeia. Em 1955, ano em que morre de ataque cardíaco depois de uma intervenção cirúrgica na CUF, sobe à presidência do conselho de Administração Manuel Ribeiro Espírito Santo , o terceiro irmão a liderar a instituição e também mestre na arte do social.
As famílias Firestone, Rockefeller, assim como a realeza do Luxemburgo e do Liechtenstein tornam-se visitas regulares da casa da família e em Espanha cimenta-se uma relação ainda mais especial. Casado com Isabel Pinheiro de Mello Arnoso, tem 11 filhos e, durante uma temporada, em casa, um hóspede muito especial - Juan Carlos, actual rei de Espanha que, anos mais tarde, não se esqueceria de agradecer o carinho. A Isabel entregou uma comenda, assinada 'Juanito'. Não seria estreia na família - ainda durante os anos 60 também Manuel Espírito Santo seria agraciado pelo general Franco - onde nem faltavam histórias de valentia por terras espanholas - aos 17 anos, Rodrigo Leite Faria, casado com Rita Espírito Santo Silva, voluntariou-se para combater com as tropas de Franco.
Ligações políticas
Bem relacionados, com o poder nacional e com as elites financeiras internacionais, os tempos são gordos. Entre 1966 e o início da década de 70, o BESCL chega aos 100 balcões, com perto de 4.500 funcionários e capitais próprios a rondar os 200 milhões de dólares. Com interesses diversos, dos sectores da alimentação às bebidas e aos têxteis, chegam aos 15% da Marconi, participam na Companhia Portuguesa de Celulose, do grupo Champalimaud, na Firestone (borracha) e acumulam presenças no sector petrolífero e energético - Sacor, Gás Cidla, Companhia Portuguesa de petróleos (BP), Sonap e Petrangol. Em 1972, chega a definitiva internacionalização do banco que assume o papel de co-fundador do Libra Bank, enquanto no ano seguinte, associado com o First National City Bank of New York, inaugura em Luanda o Banco Inter-Unido.
Manuel Espírito Santo Silva morre ainda em 73 e abre-se a primeira guerra de sucessão no banco. Em linha directa, sobe o filho Manuel Ricardo, mas não sem criar alguns dissabores na família . Os primos, José Maria Borges Coutinho Espírito Santo Silva e Carlos António Espírito Santo Silva de Mello, tinham aspirações ao trono mais desejado da finança nacional, mas o peso accionista acabou por falar mais alto. Não só o de Manuel Ricardo, mas também o da família Moniz Galvão, em que Fernando Espírito Santo Moniz Galvão, neto do fundador José Maria, desempenhou um papel determinante no sucesso de uma nova passagem de poder de pai para o filho. No entanto, mesmo com a transição assegurada, a época dourada estava a terminar. A crise petrolífera desse ano - entre Março de 73 e Março de 74, o preço do produto disparou cerca de 300% - levou a uma retracção da economia mundial e em Portugal aproximava-se uma reviravolta ainda mais violenta.
A 25 de Abril de 1974, Manuel Ricardo estava em Paris para a inauguração de uma dependência do banco. Imediatamente regressa a Lisboa onde, em conjunto com a família , se mentaliza de que nada voltará a ser igual. Ainda assim, a decisão é de permanecer no país. "Confiávamos em Spínola", conta, anos mais tarde, Mary Salgado, irmã de Ricardo Salgado, à revista "Sábado", num artigo em que lembrava as dificuldades sentidas nos meses seguintes. "Ao fim de alguns meses fiquei sem dinheiro, não tinha como alimentar os meus filhos e tive de começar a vender móveis e quadros". E o pior estava para vir. A 11 de Março de 1975, a escassos meses do célebre Verão quente, o general Spínola lidera uma tentativa de golpe para repor a direita no poder, mas o efeito dificilmente poderia ser pior para os Espírito Santo - não só o golpe falha, como a esquerda ganha força para adoptar, sob o Governo de Vasco Gonçalves apoiado por PS, PSD e PCP, uma postura mais radical. Logo às 17 horas, a sede do banco, na rua do Comércio, vivia momentos de inédita agitação. À porta uma concentração de sindicalistas e, pouco depois, uma interrupção da reunião do conselho de administração por um comando da Marinha. Manuel Ricardo, José Manuel, Jorge, António Ricciardi, Carlos Mello, José Roquette, Manuel Coutinho e José Theriaga acabam encaminhados, sob a ameaça de armas, para a prisão de Caxias. Ricardo, actual presidente do banco, escapa. "Não fazia parte da administração, era um simples funcionário", recordou a irmã. "Os funcionários do banco acharam que ele era útil e, no fim daquele impasse, quiseram que continuasse a trabalhar normalmente", concluiu em conversa com a "Sábado". Nos dias seguintes arrancam as nacionalizações. Além do BESCL, também Tranquilidade, Sacor, Central de Cervejas, Intar e a Companhia de Celulose passam para o controlo do Estado, num processo que em poucos meses afectaria perto de 250 empresas.
Sobreviver fora de Portugal
A troco de uma caução de 500 contos, os Espírito Santo seriam libertados no final de Julho desse ano e, no próprio dia, rumariam a Espanha, pelo Minho, onde reza a história tinham à espera um 'passador' a que tinham chegado por um contacto feito na prisão. Fogem por Espanha e rapidamente se espalham por Estados Unidos, Inglaterra e Brasil, mentalizados de que seriam precisos pelo menos dez anos para que pudessem regressar ao país onde, apesar de tudo, ainda haviam ficado familiares, sem acesso às contas bancárias e sem bens além dos que tinham em casa. Nessa altura, Mary Cohen, viúva de Ricardo, tem de intervir em apoio das quatro filhas - vende um apartamento em Paris para passar a distribuir uma mesada de 30 contos por cada uma delas. Mas também nessa altura, lá por fora, começam a trabalhar no renascimento do grupo, um processo de que tomaram a dianteira três ramos da família - os Salgado, descendentes da filha mais velha de Ricardo Espírito Santo , os Ricciardi e Manuel Ricardo, presidente em funções na altura da nacionalização.
É o presidente que, logo em Agosto, promove uma reunião familiar em Londres, cidade para onde se mudara e onde vivia em Thurloe Place, entre os bairros de Chelsea e South Kensington. Nessa altura, toma uma decisão que se revelaria histórica. Ricardo Salgado, com pouco mais de 30 anos e que tinha abandonado Portugal a 30 de Abril rumando a Londres, enquanto mulher e filhos seguiam para o Brasil, é incluído no grupo dos cinco responsáveis pela recuperação do Grupo Espírito Santo , denominação que surge nessa altura.
Em 1976 é aprovada a nova Constituição e, a 8 de Julho do ano seguinte, aprovada a lei que os Espírito Santo menos queriam ler. Não só vedava "a empresas privadas e outras entidades da mesma natureza a actividade económica em determinados sectores", como considerava todas as nacionalizações como "conquistas irreversíveis das classes trabalhadoras". O regresso não só não estava próximo como deixava mesmo de ser visto como garantido. Nessa altura, já o nome da família começara a abrir portas, na finança internacional.
Corrida de herdeiros
A família Agnelli, do império Fiat, JP Morgan, o Royal Bank of Canada, o próprio Juan Carlos e as famílias Rothschild e Rockefeller revelam-se apoios essenciais para a reconstrução do grupo. No Brasil, Ricardo Salgado e José Roquette arrancam em 78 com a BIA Investimentos, uma financeira especializada nos mercados bolsistas, onde pouco depois entrava o grupo Monteiro Aranha e o norte-americano Morgan Bank. Se no início do século a família tinha conseguido criar um império, agora a história não corria de forma diferente e em 1983 já o Banco Interatlântico (BIA) tinha perto de 100 funcionários. Por sua vez, Manuel Ricardo preparava-se para lançar o Banco Internacional de Crédito (BIC), sustentado num grupo de accionistas portugueses e no Crédit Agricole, com o qual ainda hoje o banco mantém uma estreita ligação, numa parceria que terá sido intermediada até às mais altas instâncias - François Mitterrand, presidente francês, era o responsável pela nomeação da administração do banco enquanto em Portugal, Mário Soares, primeiro-ministro e seu amigo, fizera a revisão constitucional (1982) para preparar o regresso dos empresários exilados após as nacionalizações. Nos anos seguintes tudo se resolveria. Em 1985 nascia o primeiro banco privado português, o BPI, e em 1989, já com Cavaco Silva como primeiro-ministro, é aprovada a lei que permitia a reprivatização das empresas. "Os objectivos essenciais são reduzir o peso do Estado na economia e depois garantir o pagamento, tanto quanto possível antecipado, da dívida pública", explicava Fernando Nogueira, ministro da Presidência e futuro líder do PSD. Nesse ano, a família recupera a Tranquilidade e em 1990 o BES.
Manuel Ricardo Espírito Santo morre em 1991 e Ricardo Salgado, então a viver na Suíça, regressa a Portugal para assumir o controlo. E o estilo notou-se. Em 2000 foi notícia com a tentativa falhada de fusão com o BPI e em 2006 por travar uma OPA da Sonae à PT, sempre em crescimento: a 24 de Julho de 2008, o banco ultrapassa o rival BCP em valor bolsista, fechando a sessão avaliado em mais de cinco mil milhões de euros. Também não faltaram polémicas durante o mandato de Salgado. Em 2005, o banco foi envolvido no caso Portucale, relacionado com a aprovação de um empreendimento turístico, na Operação Furacão, com acusações de fraude fiscal e branqueamento de capitais que podem ter lesado o estado em 280 milhões de euros, e no Mensalão, o maior escândalo de corrupção no Brasil. No final do ano passado, um "esquecimento" fiscal de 8,5 milhões de euro fez manchetes de jornais. Já este ano, foi o Ministério Público que ilibou o presidente do banco de ligações ao caso "Monte Branco", um processo em torno das privatizações de EDP e REN.
Nos três primeiros trimestres de 2013, o BES registou prejuízos de 381 milhões de euros - um valor que compara com os 90,4 milhões de lucro no mesmo período do ano passado - e instalou-se uma guerra pelo poder. José Maria Ricciardi, vice-presidente do banco e presidente do BES Investimento, lançou o ataque à liderança do primo. Salgado respondeu pedindo um voto de confiança ao Conselho Superior do BES - onde estão nove membros da família , cinco dos quais com direito a voto - e até António Ricciardi, pai de José Maria, o validou. Depois surgiram notícias de um tratado de paz entre os dois executivos do banco mais influente do país. A sucessão tem data marcada: o mandato de Ricardo Salgado termina em 2015. "São situações que acontecem na gestão de bancos", disse o banqueiro esta semana, com a autoridade de quem carrega um ADN capaz de resistir a regimes, nacionalizações, guerras e fusões. Com A.S. e H.C.C.
ORIGEM DO NOME
Espírito Santo
O historiador Carlos Alberto Damas escreveu sobre as dúvidas na origem do nome do primeiro membro da família . Maria, por ter sido Nossa Senhora a madrinha, segundo indicação do registo de baptismo. Espírito Santo terá sido acrescentado no crisma a pedido do próprio. Já o apelido Silva poderá ser da parte do pai.
A vida poupada do primeiro líder do clã
"Trabalho até às duas da noite e, sendo cinco ou seis da manhã, volto ao trabalho das facturas, pois de dia não me chega às vezes para fazer compras e vendas e cobrar de outras vendas já feitas a prazo, de bilhetes e prémios", escrevia José Maria do Espírito Santo e Silva, numa carta citada no livro "O Banco Espírito Santo , Uma Dinastia Financeira Portuguesa", de Carlos Alberto Damas e Augusto de Athayde.
O primeiro Espírito Santo nasceu a 13 de Maio de 1850 e pouco se sabe sobre a sua vida até ter completado 19 anos. Nessa altura, quando se casou com Maria da Conceição, já era dono de uma casa de câmbio, na Calçada dos Paulistas. Até morrer, e mesmo já depois de ter enriquecido, nunca perdeu o hábito diário de anotar todas as despesas pessoais.
José Maria dedicou-se a transaccionar obrigações e títulos de crédito emprestando também dinheiro e fazendo operações de câmbio. Faleceu no dia 24 de Dezembro de 1915, com 65 anos, vítima de diabetes. À data do falecimento os seus bens foram avaliados em mais de 1.200 contos,
IMPÉRIO
O poder do Grupo
Da banca à saúde
O Grupo Espírito Santo (GES) desenvolve uma grande variedade de serviços financeiros ( Espírito Santo Financial Group) e não financeiros (Rio Forte).
Na primeira, estão o Banco Espírito Santo (um dos mais antigos bancos privados em Portugal), com mais de 20% de quota de mercado, a banca de investimentos, gestão de activos, seguros e saúde. A presença internacional do grupo faz-se sentir em 25 países e quatro continentes, através de sucursais, escritórios de representação ou empresas participadas.
A Espírito Santo Financial Group está cotada na Euronext Lisboa, na Bolsa do Luxemburgo e na London Stock Exchange.
As actividades do GES alargam-se além do sector financeiro e bancário, através da 'holding' Rioforte, gerindo participações em sectores diversificados, onde se destacam o sector agrícola na América do Sul, cuidados de saúde em Portugal, imobiliário e construção civil nos continentes americano, asiático, africano e europeu e, ainda, hotelaria e turismo na Europa e Brasil.
PERFIL
O comandante que ajudou na reestruturação
António Ricciardi, presidente do Conselho Superior do GES, pertence a um dos ramos mais poderosos da família . Nas reuniões anuais de accionistas, em Lausanne, na Suíça, é ele que preside e o primeiro a falar. Aos 94 anos, o comandante mantém um ritmo de trabalho invejável. Chega ao escritório, em Lisboa, por volta das 9 horas e sai ao final da tarde. Na semana passada, foi um dos protagonistas na corrida à liderança do Banco Espírito Santo : assumiu publicamente que se deve discutir a sucessão a Ricardo Salgado e disse que só não apoiou o filho, José Maria Ricciardi, na moção de confiança pedida por Ricardo Salgado para "evitar a ruptura institucional imediata" do GES.
Há muitos anos que o comandante está habituado a tomar decisões difíceis. Depois de ter estado preso em Monsanto, após o 25 de Abril, partiu para Londres e instalou-se num escritório emprestado pelo Citibank - foi a partir dali que ajudou a reestruturar o grupo. O dinheiro não abundava - os bens foram nacionalizados -, mas havia amizades antigas e o respeito pela família mantinha-se intacto em todo o mundo. A confiança na família e o prestígio empresarial de Ricciardi facilitou o apoio dos investidores. O banco seria reconstruído de fora para dentro. Nos anos 90, o comandante passou a presidente do conselho de administração do BES, um cargo que deixou aos 88 anos.
Hoje, além do trabalho no GES, Ricciardi gosta de fazer esqui (é cidadão honorário da estância de Val d'Isère), na Suíça, e de jogar golfe no Estoril - o comandante é um perfeccionista nesta modalidade e já chegou a classificar-se em segundo lugar num torneio com mais de 100 pessoas.
PERFIL
A herdeira mais poderosa da família
Há uma tradição na família Espírito Santo : apenas os homens cuidam do dinheiro. Essa é uma das razões pelas quais Maria do Carmo Moniz Galvão Espírito Santo Silva nunca se envolveu directamente na gestão dos negócios, mas nem por isso a dona de uma das maiores fortunas do país deixou de os acompanhar. Não só tem assento no Conselho Superior do GES, onde controla a maior posição da família (17%), como ainda é presença assídua nos encontros anuais do grupo. Maior parte do património foi herdado do pai, Fernando Moniz Galvão, que além de ser um relevante accionista do banco e investidor imobiliário, tinha duas empresas importantes: Mocar (anagrama de Carmo), que importava Alfa Romeo e Peugeot, e Santomar, representante da Honda. Um império automóvel que acabou reunido na Santogal. Quando casou com Manuel Ricardo Espírito Santo , em 1954, Maria do Carmo tinha 21 anos - juntaram-se assim dois ramos, formando a maior fortuna do clã (ver infografia). Chegou a presidente do BESCL aos 40 anos, mas faleceu a poucos meses dos 58 anos, após uma cirurgia em Londres. Os filhos assumiriam a gestão dos negócios: Manuel Fernando lidera as áreas não financeiras do grupo, Fernando Manuel ficou responsável pela Santogal. Já as outras filhas, Mafalda e Madalena, estão afastadas dos negócios. Ninita, como a tratam as pessoas mais próximas, nunca foi dada a excentricidades. Amante de viagens, antiguidades e carros desportivos, tem milionários e membros de casas reais no seu círculo de amigos, mas foge de festas, fotógrafos e nunca deu uma entrevista.
Artigo publicado na edição do Diário Económico de 15 de Novembro de 2013.