Entalados com o Banif? Então e o Novo Banco?
Enquanto o Novo Banco não for vendido, as perdas contabilísticas causadas pelo desmantelamento do BES serão, até agora, de uns 17 mil milhões de euros.
Na verdade, ninguém tem certeza absoluta sobre quanto está a custar esse desastre ao país, mas admito como referência a estimativa feita em novembro por Ricardo Cabral, no jornal Público.
Se o Novo Banco for vendido por três ou quatro mil milhões (se calhar nem por esse valor lhe pegam), essas perdas somarão 14 ou 15 mil milhões.
Uma parte desse valor, mais de 10 mil milhões de euros, caiu ou poderá cair sobre privados, nacionais e estrangeiros, que investiram de alguma maneira no BES.
O restante dessa perda poderá atingir o Fundo de Resolução, a instituição que capitalizou o Novo Banco, de que é seu único acionista.
O dinheiro desse fundo, teoricamente, é constituído por contribuições de toda a banca que opera em Portugal. Mas a teoria não é a prática: na verdade, quase quatro quintos desse dinheiro foi emprestado pelo Estado e os bancos já estão fartos de avisar não irem devolver imediatamente essa quantia caso a venda do Novo Banco não renda o suficiente, o que é provável.
Se o Estado aceitar aquela recusa (e aposto que vai) e não quiser perder o amor a esses 3,9 mil milhões, terá de se conformar em receber só uma parte da venda do Novo Banco e em transformar o restante num crédito caridoso à banca, pago de forma diluída ao longo de décadas...
A União Europeia está, entretanto, a exigir que o Novo Banco receba mais 1,4 mil milhões de euros em capital. Até aceitou agora adiar a venda para o verão de 2017, para permitir essa operação e uma reestruturação, que mandará para o desemprego centenas ou mesmo milhares de bancários - com mais uns milhões de euros em custos, certamente, a serem suportados pelo Estado, através da Segurança Social.
Quem vai injetar novo capital no Novo Banco?... Desconfio que o Estado, nós.
O Banif arrisca, como nos foi explicado nas últimas horas, 3,8 mil milhões de euros dos contribuintes e o BES/Novo Banco, muito provavelmente, depois de vendido a um privado que irá lucrar com ele, custará ao Estado, somando tudo, entre esse valor e o seu dobro.
Há, portanto, seis a 12 mil milhões de euros dos nossos impostos (3,5% a 7% do PIB) em perigo de se volatizarem, não percebemos bem como nem para quê.
Se isto for assim, o país vai outra vez ao charco, a miséria vai espalhar-se mais. Depois do que aprendemos com o BPN, o BPP e, agora, com o Banif,
vamos deixar, placidamente, que este novo roubo aconteça, debaixo dos nossos olhos?
Opinião - Entalados com o Banif? Então e o Novo Banco? - Pedro Tadeu - DN
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