O Reino Unido e as gestoras de ativos foram os grandes compradores de dívida pública sindicada (Obrigações do Tesouro) durante 2016, indicam dados do Ministério das Finanças recolhidos pelo Dinheiro Vivo. As instituições parqueadas na Grã-Bretanha foram responsáveis por 24% do dinheiro emprestado à República Portuguesa. Visto de outra perspetiva, as gestoras de ativos respondem por 43% do total. A amostra resulta de um levantamento aos prospetos dos leilões sindicados, que são as operações de colocação de dívida de longo prazo em que o Tesouro pré combina com um grupo de investidores de modo a maximizar os valores que consegue ir buscar aos mercados.
O IGCP explica que a modalidade do sindicato bancário “tem sido utilizada na emissão inicial das novas séries, já que permite assegurar o duplo objetivo de colocação de um maior volume de títulos de uma só vez, ao preço de mercado e uma elevada diversificação da base de investidores, quer a nível geográfico, quer por tipo de investidor”. Portugal fez três grandes operações deste tipo, este ano, tendo ido buscar 5,5 mil milhões de euros por essa via.
Embora os bancos portugueses sejam, tradicionalmente os maiores compradores de dívida pública nacional, em janeiro, quando ocorreu o primeiro leilão sindicado (colocação de 4 mil milhões de euros em obrigações a dez anos), foram os ingleses que apareceram com mais força. As outras duas operações do género aconteceram em abril (mil milhões de euros a 7 anos e 500 milhões de euros a 30 anos).
Em 2016, os investidores do Reino Unido emprestaram por essa via 1,3 mil milhões de euros a Portugal. Relativamente à operação de janeiro, o IGCP destaca que ela teve “grande procura”, tendo registado “ordens de compra no valor de 12 mil milhões de euros” e “uma forte presença de investidores”, cerca de 300 diferentes. A taxa de juro contratada até à maturidade (a OT tem de ser paga em 2026) foi 2,973%, um valor bastante favorável, tendo em conta que atualmente, no mercado secundário, Portugal enfrenta juros de quase 3,8%.
Logo a seguir ao Reino Unido, surge o grupo composto por França, Itália e Espanha, onde o IGCP (a agência que gera a dívida portuguesa, tutela das Finanças de Mário Centeno) conseguiu captar mais 1,1 mil milhões de euros através dos três sindicatos bancários ao longo de 2016. Em terceiro lugar surgem Alemanha, Áustria, Suíça, países cujas instituições financeiras emprestaram 867 milhões de euros aos contribuintes portugueses. Os bancos e fundos sediados em Portugal só surgem em quarto lugar em termos de importância, tendo emprestado 15% do total, cerca de 840 milhões de euros por essa via.
Claro que durante o ano, o Tesouro vai mais vezes ao mercado através dos leilões ditos normais, e aqui a banca portuguesa costuma ter uma forte participação. Nessas operações Portugal conseguiu ir buscar mais 9 mil milhões de euros, mas quem compra e quanto não é revelado.
Os bancos nacionais e internacionais juntamente com as grandes gestoras de ativos são, sem sombra de dúvida, os maiores credores da República, tendo emprestado mais de 77% do dinheiro pedido por sindicato em 2016. Mais de 4,1 mil milhões de euros, portanto. As seguradoras e os fundos de pensões entraram com 13% do total. Os fundos especulativos ou de alto risco (hedge funds) ficaram com 263 milhões de euros em obrigações nacionais.
Os bancos centrais (que não o BCE, que está proibido por lei de o fazer), emprestaram diretamente a Portugal 177 milhões de euros, decorre dos dados do IGCP analisados.
Ao todo, o Estado deve aos mercados e aos credores oficiais (troika) 235 mil milhões de euros, dos quais mais de 68 mil milhões (29% desse total) são dívidas à Europa e ao FMI. Ao FMI, a República já começou a pagar antecipadamente, tendo saldado cerca de 4 mil milhões de euros até à data. Isso ajuda a baixar os juros. Atualmente, a taxa de juro média de toda a dívida portuguesa estará ligeiramente acima de 3%. A taxa média das emissões de dívida de 2016 é mais favorável: 2,5%, segundo o IGCP.
(DV)