A recuperação da economia mais forte do que o esperado em 2016 pode facilitar o cumprimento das metas orçamentais, sublinhou um dos analistas principais da agência de ratings Moody’s, numa conferência em Lisboa, esta terça-feira. Mas há pontos que podem complicar a vida da República Portuguesa. O vetor negativo mais evidente e material é a “fragilidade” do sector bancário por causa do incumprimento, problema em que também toca Itália, referiu o mesmo perito.
Há poucas semanas, a Fitch tinha alertado para o mesmo. Além disso, a Moody’s destaca a incerteza política. “O governo minoritário depende de partidos de esquerda que apoiam uma política orçamental mais expansionista”, diz um dos diapositivos da apresentação. Em todo o caso, “se houver um crescimento mais robusto em Portugal, e tivemos boas surpresas aí também, recentemente, ou seja, se a situação económica melhorar, claro que a situação orçamental torna-se mais fácil”, destacou Dietmar Hornung, economista principal da Moody’s, baseado em Frankfurt. A Moody’s é uma das três agências de ratings (que classificam a qualidade da dívida do país e restantes instituições, como bancos) que mantém o crédito de Portugal num nível especulativo ou ‘lixo’, portanto, um mau investimento. Com base na apresentação feita por Hornung, tudo continua na mesma, mas o panorama (outlook) é estável, o que é um “ponto de partida favorável”.
“Quem pode, não quer. Quem quer, não pode” Dos 28 países da União Europeia, 21 têm um outlook estável. Portugal é um deles. Estável porque há uma retoma (fraca) em curso, mas a qualidade do crédito é má porque, por exemplo, a dívida pública além de ser a terceira maior a seguir à grega e italiana, está a subir face a 2008. Um cenário “algo terrível” que afeta 13 dos países da zona euro, observou. “A maioria dos países tem rácios de dívida a subir. Os que querem usar os seus orçamentos para estimular a economia não tem capacidade para isso”, dando como exemplo os casos de Grécia, Itália e Portugal. Pelo contrário, “os países que têm capacidade, não a querem usar”. Alemanha e Holanda, por exemplo.
Para Dietmar Hornung, há ameaças para a zona euro e a Europa no horizonte por causa do Brexit e das políticas da nova administração Donald Trump, nos Estados Unidos. E em alguns países existem ameaças internas ligadas às eleições que vão ocorrer ao longo deste ano e que podem dar o poder a partidos radicais. “A maioria dos outlooks estão estáveis, mas os desenhos políticos colocam riscos negativos em 2017. Temos uma preocupação com o que pode acontecer em França” por causa da força da Frente Nacional (extrema-direita), acrescentou. Isto para dizer que “a incerteza é muita”, “com este calendário eleitoral podemos assistir a uma paralisia política” em decisões estruturais importantes necessárias para o projeto europeu que continuará, acima de tudo, na visão da Moody’s a ser “um projeto incompleto”.
Hornung suspeita mesmo que “não haverá novo ímpeto para iniciativas de crescimento ou para completar a união bancária” e que “as negociações do brexit podem aumentar os desacordos entre os estados membros”. Em relação a Portugal, “também não consideramos que o Brexit constitua um grande perigo”. “O rating de Portugal é muito mais influenciado pelas políticas e medidas portuguesas do que pelos desafios colocados pelo Brexit ou pelos EUA. Estes, para nós, não são fatores chave”. Ainda relativamente à economia nacional, o mesmo perito preferiu colocar a tónica na estabilidade atual dos ratings, algo que aliás é partilhado pela maioria dos países europeus. “As melhorias orçamentais nos países foram cruciais para haver esta estabilização dos ratings.”
(DV)