Portugal terminou o ano passado com um défice público de 2,2% do Produto Interno Bruto (PIB) ou inferior, abaixo do que foi combinado com a Europa, e o desemprego também já estará abaixo dos 10% da população ativa, revelou ontem o ministro das Finanças num evento conjunto com a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE), no Terreiro do Paço, para apresentar o estudo económico sobre Portugal, elaborado por esta entidade internacional.
Na introdução do encontro, Mário Centeno atacou fortemente “todas as instituições internacionais que erraram nas suas previsões” e garantiu que o défice de 2016 ficará “claramente abaixo de 2,3%” (portanto, em 2,2% ou mesmo); a OCDE usou o seu novo estudo para deixar elogios aos progressos feitos, mas também pintar um retrato algo cinzento a curto e médio prazo. O desemprego será 10,1% em 2017 e aí ficará em 2018. Falta desbloquear o investimento produtivo na economia. E disse que o défice não desce para 1,6% este ano como estima o governo, mas para 2,1%. O governo vê a economia a acelerar para 1,5% (taxa de crescimento real este ano); a OCDE diz que não acelera, mantém-se em 1,2%.
O investimento, diz a organização de Paris, cresce apenas 1,6%, puxado pelo imobiliário (aumento real de 1,3% na habitação).
Angel Gurría, o secretário-geral da organização, avisou que “o stock de investimento está gasto e o potencial da economia é fraco”. Na réplica, o ministro contrapôs com “perspetivas de investimento empresarial positivas e mais elevadas” e com “um contributo muito significativo do investimento público”.
Para Gurría e a OCDE, apesar dos “progressos impressionantes”,
a economia está a ficar outra vez “mais vulnerável” por razões internas (malparado dos bancos, falta de uma vaga de novas reformas estruturais no mercado de trabalho, de produto e no Estado, endividamento excessivo público e privado), “empresas zombies”. Em Portugal há muitas “empresas zombies”, não improdutivas ou “inviáveis”, que ocupam espaço no mercado e “absorvem” recursos bancários que deveriam ser canalizados para empresas viáveis e mais produtivas. Um regime que acelerasse as falências e insolvências poderia ajudar a resolver parte deste problema.
Para que se possa investir mais, é preciso “eliminar dos balanços bancários os empréstimos em dificuldades herdados do passado, abordar os estrangulamentos nos procedimentos de insolvência e a abrir novas fontes de financiamento”, insistem os economistas. A OCDE teme “desenvolvimentos adversos no sector bancário, em Portugal ou a nível europeu, podem levar à necessidade de mais apoios públicos, apesar de o espaço orçamental ser limitado, e também ao bail in de credores privados [resgate interno em que estes credores pagam parte dos prejuízos]”.
Externamente, vê Portugal totalmente exposto ao ambiente de “estagnação e de novas tensões na Europa”, afirmando que no médio prazo “uma recuperação mais lenta em muitos dos principais parceiros comerciais europeus iria reduzir a procura por exportações portuguesas”.
Finanças estudam nova vaga de reformas estruturais “Os incentivos para novos investimentos em capital poderiam ser reforçados por melhorias na eficiência judicial, reforma administrativa, reformas na regulação do mercado de produto ou custos laborais mais baixos.” “Uma avaliação sistemática das reformas feitas no passado pode ajudar a identificar áreas para uma nova vaga de reformas estruturais”; “o Ministério das Finanças tem “envidado esforços para estabelecer uma unidade dedicada” à avaliação das reformas e isso “é bem-vindo”, revelou a OCDE em Lisboa.
Governo vê menos défice e desemprego a cair, OCDE duvida