Oggi Fitch rivede il rating portoghese (e probabilmente lascerà tutto invariato).
A agência de notação de risco de crédito Fitch Ratings, a mais pequena das “três grandes” (S&P, Moody’s e Fitch), deve manter nesta sexta-feira o rating da dívida pública portuguesa num nível de alto risco (lixo), inviabilizando que o Tesouro português se liberte do sufoco constante de ter poucos compradores para a sua dívida além de Mario Draghi e do Banco Central Europeu (BCE).
A Fitch esteve em Lisboa na semana passada e indicou que só quando houver “mudanças estruturais” na economia nacional é que o rating poderá subir — e avisou que quer ver “progressos” antes de tomar essa decisão, e
nacionalizar o Novo Banco, por exemplo, não corresponde àquilo que a agência consideraria um “progresso”.
Uma banca com problemas que se arrastam, crescimento económico fraco e abaixo do previsto pelo governo, uma montanha de dívida acumulada e um défice que, apesar de ter ficado abaixo de 2,5%, não chega para impressionar a agência de
rating,
porque é sabido que efeitos extraordinários e uma quebra histórica no investimento público foram decisivos.
“
Nós importamos-nos com o crescimento potencial a longo prazo e com a sustentabilidade da dívida. Ou seja, se as políticas que estão a ser aplicadas são apenas one offs (efeitos extraordinários) ou se são sustentáveis. É muito fácil cortar o défice de forma expressiva num ano, cortando no investimento, mas estando a criar-se problemas para o futuro. Vemos isso muito em algumas economias emergentes, por vezes”, ouviu o Observador da boca de Federico Barriga Salazar, o diretor da área de soberanos europeus da Fitch.
Atualmente, a Fitch tem um
rating de alto risco para Portugal e uma perspetiva “estável”, uma perspetiva que em março foi despromovida – uma decisão que foi vista, na altura, com deceção por alguns analistas. Em março, a Fitch criticava as previsões demasiado otimistas que estavam inscritas no primeiro Orçamento do Estado de Mário Centeno (era 1,8% e, como se comprovou, o crescimento foi mais baixo e rondará os 1,2%) e temia pela solidez da solução governativa que levou António Costa à cadeira de primeiro-ministro. No segundo ponto, a Fitch reconhece, agora, que terá subestimado a resiliência da maioria parlamentar.
Mas isso não ajuda muito a que Portugal seja mais bem visto pela agência de
rating, ao ponto de se acreditar que a notação de risco possa subir nos próximos tempos — nem mesmo na Fitch, que excetuando a DBRS foi historicamente a agência mais otimista em relação a Portugal ao longo dos anos da crise. Os analistas do mercado de dívida acreditam que nada vai mudar no
rating nem na
perspetiva (
outlook), mas não irão deixar de estar atentos ao tom do relatório da Fitch, que pode ser mais ou menos animador.
A Fitch não ficou muito impressionada com a redução do défice, apesar de ser um fator importante. Mas está surpreendida com a durabilidade da solução governativa.
Um especialista que há vários anos acompanha a dívida portuguesa, para o alemão Commerzbank, David Schnautz, diz que o mais provável é que a Fitch adote um tom mais cauteloso em relação a Portugal, dando a entender que o rating não só está longe de subir como pode, até, vir a descer mais alguns degraus. É certo que os impactos positivos de uma eventual subida de
rating não são simétricos com os impactos negativos de uma eventual descida — afinal de contas, o
rating já está em
lixo e uma despromoção não alteraria muita coisa, ao passo que uma subida poderia ter grande importância.
Contudo, David Schnautz considera que, mesmo neste contexto em que o
rating já está em
lixo, os juros podem mesmo agravar-se ainda mais caso a Fitch dê maior ênfase aos riscos negativos do que aos aspetos positivos. Portugal já está a sentir no mercado a pressão de estar dependente da agência DBRS e do BCE para escoar a dívida que é necessário emitir, mas o analista do Commerzbank não exclui que os juros continuem a subir nas próximas semanas e meses.
Se o outlook for colocado em negativo, é muito provável que isso origine ainda mais nervosismo e juros mais elevados no mercado. Contudo, a previsão mais consensual é que fique em estável, portanto tudo vai depender do palavreado usado pela Fitch. No global, continuo a acreditar que a trajetória mais provável é que os juros continuem a subir, gradualmente.”
Existe um contexto externo desfavorável, como já tem sido escrito, mas o analista do Commerzbank diz que, quando se fala de Portugal, “não é tudo um pesadelo mas as coisas estão piores do que parecem”. “Manter o ritmo de redução do défice este ano e em 2018 vai ser muito mais difícil”, acrescenta David Schnautz, notando que “subidas de
rating podem não estar em cima da mesa este ano e também não é provável que ocorram no próximo ano“.
(OBS)